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Brasileiros deixam país em crise em busca de trabalho e qualidade de vida

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Nos Estados Unidos, Inaê diz ter comprovado que “dinheiro não compra felicidade” – mas permite ajudar sua família que, “de tão pobre, passa dificuldades”.

A estudante faz parte de um contingente de brasileiros que tem deixado um Brasil em crise em busca de trabalho e de uma melhor qualidade de vida no exterior.
Dados da Receita Federal indicam que voltou a crescer este ano o fluxo migratório do Brasil para o exterior, depois de dois anos de pandemia, que viram um recuo significativo nesses números. Entre 1º de janeiro e 12 de julho deste ano, cerca de 14 mil brasileiros enviaram ao órgão a Declaração de Saída Definitiva do País (DSDP) – quase 90% do total registrado ao longo de todo o ano passado.

Muitos, como Inaê, Júnior e Lívia, ouvidos pela reportagem do g1, encontraram lá fora trabalhos de menor qualificação, mas que garantem um nível de consumo e qualidade de vida acima do que tinham no Brasil. E com um bônus: mais segurança.

‘Posso comprar o que quero comer’
“No Brasil eu ia ao mercado e comprava o que dava para comprar. Hoje, posso comprar o que quero comer”, diz Júnior Marques, de 31 anos, que atualmente mora em Portugal.

Enquanto no Brasil o desemprego anda por volta dos 10%, em Portugal, diz Júnior, “não falta emprego para quem quer trabalhar”.

Mesmo com um emprego fixo, parceria em uma empresa de valet, carro quitado e uma casa própria em Niterói, Rio de Janeiro — Marques decidiu deixar o Brasil em busca de novas oportunidades em Portugal.

No país desde fevereiro, ele atualmente mora sozinho em um pequeno quarto alugado e atua na área de construção civil – algo que segundo ele, nunca imaginou, já que trabalhava como motorista de aplicativo no Brasil. Hoje, trabalha 8 horas por dia e ganha o que equivalente a cerca de R$ 5 mil por mês.

“Hoje trabalho menos e ganho mais, daqui a pouco vou poder comprar meu próprio apartamento, o que eu levaria anos no Brasil”. 

Gabriela Marques, de 28 anos, sua esposa, já havia saído do Brasil meses antes, para trabalhar como camareira durante sete meses em um navio pela Europa – e eles agora se veem quando a embarcação faz paradas em cidades próximas.

Mas as oportunidades por lá não vieram sem percalços. O brasileiro, que relata nunca ter sofrido racismo por aqui, já se viu vítima na terrinha, onde, segundo ele, esse tipo de discriminação é comum.

"Um homem português que estava no celular levantou assim que cheguei e ficou me olhando com cara de nojo. Eu estava limpo, não estava fedendo, não tinha por que ele me olhar daquela forma”. 

Segundo relatório da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR), a expressão que mais se destaca enquanto fundamento na origem da discriminação naquele país é a “nacionalidade Brasileira”, seguida pela expressão “cor da pele negra/preto(a)/negro(a)/raça negra”, categoria que inclui todas as referências a “negro(a)”.

‘Embarcamos com 8 malas, com roupas e alguns brinquedos’

“A gente queria ter uma vivência diferente, uma experiência de morar no exterior, e de conhecer a qualidade de vida em um país de primeiro mundo”, contou Luiz Ricardo Gerbelli, que se mudou com a família para o Canadá.

Foi a pandemia que adiou, em mais de um ano, o plano do casal Luiz Ricardo e Carolina, ambos de 40 anos, a de se mudar com os filhos para o país mais ao norte do continente. A mudança foi concretizada em agosto de 2021 e a família vive, desde então, em London, uma pequena cidade na província de Ontário.

Para concretizar o sonho, Luiz pediu demissão do emprego, e o casal vendeu quase tudo o que tinha.

“Nós 4 embarcamos com 8 malas, com roupas e alguns brinquedos, e só. Precisamos deixar coleções, manias, livros, muitas roupas, itens da casa e colocar na mala o que iríamos usar mesmo. No final, percebemos que não precisamos nem da metade que trouxemos. É um grande exercício de desapego e na prática a gente vê que dá certo”, disse Carolina.

No Brasil, Carol trabalhava como florista e tinha empresa própria. Ela se mudou com visto de estudante e um mês depois ingressou em um curso de horticultura. Já Luiz conseguiu trabalho no segmento de TI, mesma área em que atuava no Brasil. “Não foi fácil [conseguir trabalho na mesma área], mas deu certo”, comemora.

Luiz, no entanto, precisou ‘dar um passo atrás’ na carreira, inclusive em termos de remuneração, que acabou ficando abaixo do que ele recebia no Brasil. “Se no Brasil você era gerente, aqui você vai ser programador. O canadense precisa ganhar confiança em você primeiro antes de lhe oferecer um cargo maior”, esclareceu Luiz.

Houve desafios na adaptação das crianças, que não falavam inglês, e para lidar com o clima – no inverno canadense a temperatura pode chegar a -30ºC.

Mas, da qualidade de vida em um país de 1º mundo, o casal destaca a segurança. “Meu filho ficava desesperado porque a porta só tem uma tranca. Ele ficou alguns meses com medo de que alguém fosse entrar na casa. A gente não se dava conta que a violência no Brasil afetasse tanto uma criança como vinha afetando nossos filhos”, contou Carol.

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