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Governo federal rejeita sociedade com polícia de Castro

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Cada um no seu quadrado. Essa foi a decisão do governo federal ao recuar da decisão de enviar 300 homens da Força Nacional para auxiliar a polícia do estado do Rio de Janeiro no combate ao crime. O pedido havia sido feito pelo governador Claudio Castro, e o envio do reforço chegou a ser anunciado pelo Ministério da Justiça. Mas a operação foi abortada pelo alto risco político envolvido.

Foram três os motivos que levaram o governo a desistir da ajuda:

·         Em primeiro lugar, a cúpula do governo federal avaliou que ação conjunta da Força Nacional com as polícias estaduais fariam o governo do PT virar sócio da polícia de segurança de Castro. O atual governador chegou ao poder em 2014 com uma plataforma política que radicalizava a política do “tiro, porrada e bomba”, adotada no Rio há décadas. Castro assumiu o governo após o impeachment de Wilson Witzel e em alguns momentos, até radicalizou o que Witzel pregava. Diversas operações policiais de Castro tiveram dois resultados: pilhas de cadáveres e o apoio de pesquisas de opinião pública. Tanto que em 2018 ele foi eleito em primeiro turno, em uma disputa com Marcelo Freixo, que simbolizava justamente o pensamento contrário à linha do “tiro, porrada e bomba”.

·         O segundo fator foi a conclusão de que não havia condições de um comando compartilhado entre governo federal e estadual, devido à “infiltração do crime” nas polícias. O combate à corrupção policial nunca foi prioridade no estado do Rio. Quando houve a intervenção federal, uma das metas era a criação de uma Corregedoria Geral Unificada forte e independente. Havia ambiente político e recursos para isso, mas o interventor general Braga Netto não moveu uma palha neste sentido. A promiscuidade com a milícia é o grande problema. Depois da intervenção federal, houve mais retrocessos. O governo Witzel/Castro extinguiu a secretaria de segurança e passou a tratar as polícias como currais eleitorais. Witzel queria criar a patente de general para agradar os coronéis da Polícia Militar. O Exército não gostou. Castro definiu com sinceridade a forma de tratar policiais como eleitores: “A esquerda tem as universidade e a direita, os policiais”. Um policial servidor público é tratado com respeito, mas deve ser contrariado quando a lei assim determina. Um policial eleitor é um parceiro que não deve ser contrariado. As corregedorias existem para desagradar os policiais.

·         Por fim, o fator que serviu de pretexto para o recuo do governo federal: o Ministério Público Federal questionou o secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, se o envio de 300 homens da Força Nacional estaria dentro das orientações da constituição, que garante o monopólio da força ao Estado, mas também o direito à vida da população civil que mora nas áreas dominadas pelo crime. Como não havia tempo hábil para atender as exigências, avaliou-se que havia um risco jurídico muito alto para Capelli. O governo junto a fome com a vontade de comer e abortou o envio da Força Nacional.

O revés para Cláudio Castro acontece num momento deliciado, em que ele está sitiado pelos próprios aliados na Assembleia Legislativa. Os deputados da base aliada estão exigindo o controle da Segurança Pública, em um movimento que já foi apelidado pela oposição de Novo Cangaço. “Eles fazem um cerco ao palácio e levam o comando de batalhões e delegacias”, definiu um deputado.

O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar é quem comanda a tropa para tomar a Secretaria de Segurança. A situação é tão esdrúxula, que o decano da Alerj, o deputado Carlos Minc foi ao microfone apelar: “a base do governo tá fazendo tanta crítica ao governo que tá tirando espaço da oposição. Como fazer oposição, se todo dia um deputado da base vem aqui e pede a cabeça de um secretário?”.

E aqui vale um pouco de memória: as indicações para as delegacias e comando de batalhões sempre foram moeda de troca do governo estadual com a Assembleia Legislativa. Quem acabou com a prática, por mais contraditório que possa parecer, foi o ex-governo Sergio Cabral. Esperto, Cabral montou uma espécie de show-room de uma gestão eficiente em seu governo: a Segurança, a Educação e a Cedae, empresa de águas e esgoto, eram áreas em que não se podia roubar, nem havia interferência política.

O caminho da corrupção passava pela Saúde e Obras, mas estas três áreas eram intocadas, o que lhe garantiu muita popularidade, especialmente com o ex-secretário José Mariano Beltrame à frente da Segurança com a política de pacificação.

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