A forma como o governo do estado de São Paulo impõe uma política de “zigue-zague” de fechamento e abertura do comércio, com abrandamento e, em seguida, mais rigor nas políticas públicas de isolamento social, não está sendo eficaz para conter a propagação da Covid-19 no estado, segundo estudo divulgado pela Rede de Pesquisa Solidária, que reúne mais de 100 pesquisadores de diversas instituições parceiras, entre elas a Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a nota técnica divulgada pela rede no final de semana, o governo deveria modificar as políticas de distanciamento físico, “para garantir maior coerência e coordenação”.
“É urgente adotar medidas para apoiar a restrição e a segurança da mobilidade das pessoas”, afirmaram os pesquisadores, que defendem a manutenção de regras mais rígidas de distanciamento social no estado para reduzir a velocidade de transmissão, “considerando-se o nível atual de risco de transmissão comunitária” do coronavírus continuar em alta no estado.
“Essas medidas devem ser implementadas com duração suficiente para gerar resultados de redução na proporção de testes positivos, número de novos casos, óbitos e taxa de ocupação de leitos ambulatoriais e de UTI COVID-19 que sejam sustentados por um período mínimo de 14 dias seguidos de queda”, aponta o documento.
Os pesquisadores apontam que a duração da fase emergencial no estado, que começou em 15 de março e durou até 11 abril, com 29 dias de duração, não foi suficiente para conter a propagação da doença, apesar da leve redução no número de internações nos hospitais do estado. Neste período, apenas serviços essenciais podiam abrir e o comércio de rua foi todo fechado.
Em seguida, o governo do estado flexibilizou as regras, determinando a entrada na fase vermelha do Plano SP para conter a doença, com a autorização para reabertura de alguns serviços, como comércio, lojas de materiais de construção e a realização de aulas presenciais em escolas públicas e privadas.
Alegando melhoria nos indicadores de contaminação e de internados em unidades de terapia intensiva (UTI), o governador, João Doria (PSDB), flexibilizou novamente as regras, com um período de duas semanas de transição para a fase laranja do Plano SP, com a reabertura de shoppings, atividades religiosas e comércio de rua em 18 de abril.
Segundo o estudo dos pesquisadores, o estado de São Paulo se mantém como o epicentro da pandemia no país. “Não se consegue controlar a disseminação do coronavírus”, afirma o documento.
“As estratégias para enfrentar a pandemia em março de 2021 no estado de São Paulo foram menos rígidas e menos consistentes do que as adotadas em março e no início de abril de 2020. A fase mais rígida do plano de contenção do governo estadual, chamada de “Fase Emergencial”, teve duração de apenas 29 dias”, afirmaram os pesquisadores.
Para os pesquisadores, outro fator que impacta na propagação da doença no estado é “a falta de um programa consistente de testagem de casos ativos, rastreamento de contatos e apoio para o isolamento de pessoas com testes confirmados e suspeitos”.