O presidente russo, Vladimir Putin, disse que vai introduzir a lei marcial nas quatro regiões da Ucrânia anexadas em setembro – Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk.
A lei marcial é uma norma implementada em cenários de conflitos, crises civis e políticas, que substitui as leis e autoridades civis pelas militares. No início da invasão russa à Ucrânia, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chegou a introduzir a mesma medida em seu país.
Em um decreto publicado também nesta quarta, Putin restringiu o movimento de entrada e saída de civis de oito regiões russas ou anexadas por Moscou: Krasnodar, Belgorod, Bryansk, Voronezh, Kursk e Rostov, todas próximas à Ucrânia, e os territórios ucranianos da Crimeia e Sebastopol, que a Rússia anexou ilegalmente em 2014.
As medidas, com quase oito meses de guerra, marcam a mais recente escalada de Putin para combater uma série de grandes derrotas para as forças ucranianas desde o início de setembro (leia mais abaixo).
Em reação ao anúncio de Putin, o governo ucraniano disse que a declaração deveria ser considerada “pseudolegalização de saque de propriedade ucraniana”.
Em declarações televisionadas a membros de seu Conselho de Segurança, Putin também instruiu o governo a estabelecer um conselho de coordenação especial sob o comando do primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, para governar as regiões.
A implementação da lei marcial chega no mesmo dia em que funcionários russos instalados em Kherson, uma das quatro regiões ocupadas, começaram a expulsar civis da cidade sob a alegação de um ataque ucraniano iminente.
Em uma indicação de que precisa levantar verbas, Putin disse que as medidas aumentariam a estabilidade da economia, indústria e produção em apoio à guerra da Ucrânia.
"Estamos trabalhando para resolver tarefas muito complexas e de grande escala para garantir um futuro confiável para a Rússia, o futuro de nosso povo", disse ele.
A guerra na Ucrânia sofreu uma escalada nas últimas semanas, após o governo ucraniano começar a colocar em prática o plano de retomada das regiões controladas por tropas russas, com o apoio de envio de armas por parte do Ocidente.
A Rússia, em resposta, realizou o referendo de anexação de quatro cidades – Kherson, Zaporizhzhia (onde fica a maior usina nuclear da Europa) e Donetsk e Luhansk, que já eram parcialmente controladas por movimentos separatistas pró-Rússia.
Uma semana depois, fortes explosões atribuídas à Ucrânia destruíram parte da ponte da Crimeia, península ucraniana anexada ilegalmente pela Rússia em 2014. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não reconheceu autoria do ataque, mas já havia afirmado que “a guerra da Ucrânia começou e terminará pela Crimeia”.
A via destruída, a única ligação da Crimeia com território russo, é também um forte símbolo da ocupação russa, e foi inaugurada pelo próprio Vladimir Putin em 2018.
Por isso, Putin ordenou um forte contra-ataque e, apenas dois dias depois, bombardeou Kiev. A capital ucraniana vivia uma relativa calma desde o fim de março, mas voltou a ser alvo de bombardeios russos. Foi o pior ataque à capital ucraniana desde o início da guerra, em 24 de fevereiro.
Logo após o ataque, o próprio Vladimir Putin confirmou que os mísseis sobre a capital ucraniana foram uma vingança pela explosão da ponte da Crimeia.