Apesar das declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que Paulo Guedes fica no cargo, a ala política do governo avalia que a saída do ministro da Economia depende, na verdade, da seguinte equação: um substituto com perfil de tranquilizar o mercado e, ao mesmo tempo, que tenha interlocução com o Congresso para discutir uma agenda econômica que atenda aos pleitos políticos eleitorais do presidente Bolsonaro. Ou seja: um nome com credibilidade junto ao mercado que tope discutir novas manobras no Orçamento para ampliar gastos às véspera do ano eleitoral.
A conta é difícil de fechar, claro, mas segue em discussão a todo vapor nos bastidores.
Até aqui, o que houve, de fato, foram sondagens para a vaga de Guedes, como o do ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida. O problema, admite um expoente do Centrão, é que é difícil convencer um nome que o mercado avalize a “assumir esse abacaxi” faltando um ano para o fim do governo.
Ministros do governo e integrantes da cúpula do Congresso ouvidos pelo blog consideram, no entanto, que Guedes perdeu nas últimas semanas o que restava da já limitada capacidade de interlocução om o Congresso, além de não funcionar mais como “ponte” de credibilidade e tranquilizador junto ao mercado. Logo, avaliam, está no cargo por “estar agarrado” ao posto.
Ao mesmo tempo, esses auxiliares admitem que, por não colocar o cargo à disposição, Bolsonaro tem dificuldades de demitir o “Posto Ipiranga”, a quem é grato desde a campanha por ter sido uma espécie de avalista de uma agenda econômica liberal no governo – agenda esta que nunca foi colocada em prática.
Esses mesmos assessores de Bolsonaro avaliam que a solução ideal seria Guedes pedir para sair – mas o ministro não dá nenhum sinal de que deixará o cargo. Pelo contrário: repete que tem a “missão” de ficar no governo para “ajudar o Brasil”.
Outro nome que agrada o mercado e também ministros da ala política é o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. De novo, o problema aqui é que o próprio Campos Neto repete a amigos que não tem intenção de assumir o posto de Guedes, que o convidou para o governo, além de ter um perfil liberal, o que o inviabiliza para a segunda parte da equação dos sonhos da ala política do governo: atender às demandas políticas eleitorais do governo.
Enquanto não chegam a um nome ideal para a vaga de Guedes, um consenso paira entre ministros do governo: Pedro Guimarães, presidente da Caixa, seria o pior dos cenários. Interlocutores de Bolsonaro que conversaram com o blog garantem que Guimarães, um dos principais aliados de Bolsonaro, está em campanha pelo cargo e vê o posto como trampolim para pleitear uma eventual vaga de vice de Bolsonaro, em 2022. “PG por PG, melhor deixar o Paulo Guedes”, ironiza um auxiliar do presidente.
No fim de semana, ministros do governo ouvidos pelo blog também voltaram a discutir o desenho dos ministérios da área econômica. A avaliação é de que foi um “erro” a união do Planejamento com Economia, o que garantiu muito poder ao ministro da Economia. Por isso, integrantes do Centrão defendem a separação dos ministérios novamente.