Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil perdeu 8,34% de sua vegetação natural em 18 anos. A Amazônia e o Cerrado foram os biomas que mais sofreram perdas e maior parte da área devastada em todo o país foi convertida em áreas de pastagem.
Pantanal perdeu ao menos 10 vezes mais área em 2020 que em 18 anos
O levantamento foi realizado entre os anos de 2000 e 2018 e faz parte do que o IBGE classificou como contas de extensão dos ecossistemas, que têm como objetivo mensurar o capital natural do país para desenvolver indicadores ambientais que possam ser incorporados ao cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzido no país.
Ao todo, o Brasil perdeu cerca de 490 mil km² de vegetação natural ao longo do período analisado. A área é equivalente a mais de dez vezes toda a extensão territorial do estado do Rio de Janeiro e quase ao dobro de todo o território do estado de São Paulo que eram estimadas pelo IBGE, em 2018, em cerca de 43,8 mil km² e 248,2 mil km², respectivamente.
De toda a área perdida, cerca de 270 mil km² (55,07%) eram da Amazônia e cerca de 153 mil km² (31,17%), do Cerrado – ou seja, 86,24% da cobertura vegetal nativa devastada se concentrava nestes dois biomas.
O IBGE enfatizou que, ao longo do período analisado, houve uma desaceleração nas perdas de áreas naturais no país. A maior desaceleração ocorreu na Mata Atlântica – de uma perda de 8.793 km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e 2018. Na Caatinga, nesses mesmos cortes temporais, as perdas foram de 17.165 km² e de 1.604 km², respectivamente.
A maior parte da área devastada em todo o território nacional foi convertida em áreas de pastagem e agrícolas. Cerca de 208,4 mil km², o que corresponde 43% da vegetação perdida, passaram a ser usados como pastos, enquanto outros cerca de 94 mil km² (19%) passaram a ser usados para plantio.
A silvicultura, que consiste no cultivo de árvores para coleta de madeira ou produção de papel e celulose, representou apenas 3,6% de toda conversão do uso da terra que teve sua cobertura vegetal alterada.
Pampa é o mais devastado, enquanto o pantanal é o mais preservado
Proporcionalmente, o bioma pampa, predominante na Região Sul do Brasil, foi o que mais perdeu área vegetal nativa. Foram mais de 16,1 mil km² devastados em 18 anos, o que representa 16,8% de toda a sua área natural.
“Todos os biomas são muito diferentes entre si, mas o Pampa tem uma característica que o torna menos atrativo à opinião pública, já que não tem uma vegetação exuberante. Mas é uma área importante de bacias sedimentares, onde fica parte do Aquífero Guarani, um dos maiores e mais importantes mananciais hídricos subterrâneos do país”, apontou a gerente da pesquisam Maria Luisa Pimenta.
O Cerrado, concentrado no Centro-Oeste, foi o segundo com a maior proporção de vegetação perdida – cerca de 152,7 mil km², equivalente a 12,8% de toda sua área.
A Amazônia, concentrada no Norte do país e o maior entre todos os biomas brasileiros, foi o que perdeu a maior extensão de área em valores absolutos. Foram cerca de 270 mil km² devastados no período, mas que representaram 7,3% de sua área nativa.
A Mata Atlântica, que se estende por quase todo o litoral do país e que foi a vegetação mais alterada ao longo de toda a história do Brasil, aparece na sequência com pouco mais de 13,8 mil km² perdidos, o que corresponde a 7% do que ainda resta de sua formação nativa. Em 2018, restavam apenas 16,6% de Mata Atlântica nativa.
“As áreas naturais [da Mata Atlântica] sofreram pouca alteração no período porque já são muito diminutas. No entanto, continuam a apresentar diminuição”, destacou a pesquisadora.
A Caatinga, na Região Nordeste, que é o terceiro bioma mais preservado do país, perdeu cerca de 35,3 mil km², o que representa aproximadamente 6% de sua vegetação natural.
Já o Pantanal, que é limítrofe à Amazônia, foi o bioma que menos perdeu área nativa no período analisado. Foram cerca de 2,1 mil km² devastados, o que representou apenas 1,6% de sua área, sendo, portanto, o mais preservado entre todos os biomas brasileiros no período de 2000 a 2018.