Sem negar nem confirmar o teor de uma reportagem da agência Bloomberg, que afirmou que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) teria pedido ao seu colega americano Joe Biden ajuda para se reeleger nas eleições presidenciais de outubro, a Casa Branca afirmou à BBC News Brasil, por meio de um porta-voz, que espera que “os candidatos respeitem o resultado constitucional do processo eleitoral” e reafirmou “total confiança” no sistema de eleições do país.
“Falando amplamente, temos total confiança no sistema eleitoral do Brasil. Em uma democracia consolidada como a brasileira, esperamos que os candidatos respeitem o resultado constitucional do processo eleitoral”, afirmou um porta-voz da Casa Branca.
A manifestação acontece menos de uma semana após o primeiro encontro entre Bolsonaro e Biden, em Los Angeles, às margens da 9a Cúpula das Américas, das quais os americanos eram anfitriões.
Durante os primeiros dez minutos da reunião, abertos para a imprensa, o presidente americano fez questão de citar que o país sul-americano tem “instituições eleitorais fortes” e uma “democracia inclusiva”.
Os comentários eram respostas às repetidas alegações – sem provas – de Bolsonaro de que as urnas eletrônicas não seriam confiáveis, que os militares deveriam se envolver na contagem de votos e que ele poderia não aceitar o resultado do pleito que acontece em menos de 4 meses. Em sondagens eleitorais, o presidente, que tenta a reeleição, tem aparecido em segundo lugar na preferência popular.
Diante de Biden e da imprensa, Bolsonaro afirmou que “tenho certeza que serão realizadas (as eleições) neste estilo democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza que quando deixar o governo, também será de forma democrática”.
Ele porém voltou a citar que “nós queremos eleições limpas, confiáveis e auditáveis, para que não haja nenhuma dúvida após o pleito”, típico argumento que vem repetindo ao acusar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de não garantir a segurança e a confiabilidade do processo, cujos resultados, repete Bolsonaro, não seriam verificáveis, algo que o TSE refuta.
Depois desses minutos iniciais, no entanto, a conversa se estendeu por mais de meia hora. Na parte final, Bolsonaro quebrou o protocolo e pediu para ficar a sós com Biden, sem os oito auxiliares que acompanhavam cada um dos líderes na sala.
No fim, apenas os presidentes, um tradutor e os dois chefes de política exterior dos países ficaram na sala. Bolsonaro afirmou que o que foi tratado ali, quando ambos os mandatários ficaram “a menos de um metro de distância” e “sem máscaras”, era “segredo de Estado”.
Mas, segundo reportagem da Bloomberg publicada há 4 dias, Bolsonaro aproveitou do clima mais intimista para pedir a Biden que o ajudasse a se reeleger no Brasil.
O veículo americano atribui a informação a “pessoas familiarizadas com o assunto”, afirma que Bolsonaro se referiu a Lula como “esquerdista radical” e “contrário aos interesses americanos” e diz que Biden simplesmente mudou de assunto diante do pedido.
Questionados pela BBC News Brasil sobre se confirmariam tal relato, tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional dos EUA evitaram desmentir ou chancelar o teor da reportagem.
“Os Estados Unidos expressaram em várias ocasiões confiança nas instituições democráticas do Brasil e respeito pelo forte histórico do Brasil de eleições livres e justas”, afirmou à BBC News Brasil um porta-voz do Departamento de Estado.
Já Bolsonaro, negou que tenha feito tal pedido.
“Não existe isso aí. Teve uma reunião bilateral ampliada, com 20 pessoas presentes, 30 minutos de conversa e depois pedi uma reservada com Joe Biden. O que nós tratamos ali é reservado, cada um pode falar o que bem entender. Agora, (a Bloomberg) não cita fontes, ‘segundo tal pessoal’. O que eu conversei com o Biden não sai de mim, nem do (ministro das Relações Exteriores) Carlos França. É especulação”, disse Bolsonaro, em entrevista à rádio CBN Recife.