O Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um alerta de emergência hídrica entre junho e setembro para cinco Estados — Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
A falta de chuvas é considerada crítica na região da bacia do rio Paraná, que concentra importantes usinas hidrelétricas, como Jupiá, Ilha Solteira, Porto Primavera e Itaipu.
O comunicado se soma a uma sequência de notícias que expõem uma das piores secas que o país já enfrentou, concentrada na região Centro-Sul.
Dados divulgados em abril pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) apontaram que, entre setembro de 2020 e março deste ano, as hidrelétricas do país receberam o menor volume de chuvas em 91 anos.
A situação piorou em abril, conforme o Índice Integrado de Seca (IIS) do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), com intensificação da seca em relação a março.
A área mais afetada no período estava localizada entre São Paulo, Mato Grosso do Sul, sul de Goiás e oeste de Minas Gerais. Nessa região, 248 municípios estavam em condições consideradas de seca extrema, uma categoria anterior ao pior da escala de cinco níveis, a seca excepcional.
Conta de luz mais cara
O impacto mais direto desse quadro é no preço da energia elétrica.
“O Sudeste, onde a situação dos reservatórios é pior, responde por cerca de 70% da produção de energia hidrelétrica do país”, destaca Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital Markets.
Com a menor oferta de energia a partir das hidrelétricas, o país precisa acionar usinas térmicas, cuja produção é muito mais cara — e mais poluente.
Nas contas de luz enviadas aos consumidores neste mês já aparece o acréscimo da bandeira vermelha patamar 1 acionada no início de maio pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A perspectiva para os próximos meses não é de melhora — a cobrança pode ser ainda mais alta, caso a Aneel considere ser necessário adotar a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara entre as quatro consideradas pela agência.
“Dadas as características dos reservatórios do Sudeste, é difícil que haja melhora no curto prazo”, diz a economista.
A depender do regime de chuvas nos próximos meses, acrescenta Argenta, o quadro pode demandar “políticas governamentais específicas para contornar a situação”.
“Um racionamento não está descartado”, diz ela, emendando que uma medida como essa, contudo, geralmente está no fim da fila das opções avaliadas pelos gestores públicos por conta de seu elevado ônus político.
A lembrança da última vez que o país usou esse expediente segue viva na memória de muitos brasileiros. Em 2001, no penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o país sofreu uma série de apagões e teve de passar por um penoso racionamento.
Segundo o jornal Valor Econômico, que ouviu fontes do governo após reunião desta quinta (27/05) do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico, considera-se a necessidade de criar um “comitê de crise” para pensar estratégias que possam afastar o risco de apagão. Nesse sentido, o governo trabalharia por ora com todos os cenários, inclusive o de racionamento.