Insatisfeita com o estilo mais pragmático adotado pelo presidente Jair Bolsonaro, que se distanciou dos chamados apoiadores de primeira hora, a ala ideológica do governo usou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para tentar derrubar o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
A disputa entre os dois, que se tornou pública, vem sendo travada nos bastidores desde que Ramos, articulador político do Palácio do Planalto, seguiu as determinações de Bolsonaro e passou a negociar com partidos do “Centrão” a formação de uma base de apoio no Congresso Nacional.
Desde então, a ala ideológica, com o apoio de filhos do presidente, passou a atacar Ramos, integrante da ala militar do governo.
Os apoiadores de primeira hora também não gostaram das articulações dos militares para que o presidente evitasse o embate com o Judiciário e buscasse um maior diálogo com ministros do Supremo Tribunal Federal.
O problema, destaca um interlocutor de Bolsonaro, é que tudo foi feito seguindo ordens do presidente. Como a ala ideológica não pode bater de frente com Bolsonaro, tenta derrubar Ramos.
Bolsonaro mandou Salles pedir desculpas, e Ramos evitou revidar publicamente os ataques do ministro do Meio Ambiente. Em público, houve uma trégua. Mas, nos bastidores, a guerra deve continuar.
Na avaliação de assessores presidenciais, ficou claro que Luiz Eduardo Ramos tem o apoio da cúpula do Congresso, líderes partidários e governadores. Afinal, esses grupos não querem que a ala ideológica volte a ganhar espaço no governo e aprovam o trabalho do ministro da Secretaria de Governo.
O que incomodou os militares foi a forma como Salles tratou Ramos, chamando-o de “Maria Fofoca”. Um ataque considerado deselegante. E, se atuou para que Salles pedisse desculpas para acabar com a briga pública entre os dois auxiliares, Bolsonaro, segundo militares, não deu declarações públicas de apoio a eles. Ficou apenas nos gestos.
Ou seja, o presidente mantém apoio a Luiz Eduardo Ramos, amigo de longa data, mas também não quer desagradar totalmente os apoiadores de primeira hora. Afinal, eles estão insatisfeitos com Bolsonaro pela posição mais pragmática do presidente.
E o presidente decidiu fazer alguns gestos de agrado a esses grupos, como a guerra das vacinas. Por sinal, posição do presidente também criticada pelos militares.
O fato é que os militares, mesmo mantendo influência dentro do Palácio do Planalto, já não têm o prestígio do início do governo. Nos últimos dias, Bolsonaro enquadrou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, general da ativa, viu Ramos ser atacado por Salles e não rebateu informações que circularam de que pode não ter Hamilton Mourão na chapa da reeleição.
Mourão
Mais cedo, nesta segunda-feira (26), o vice-presidente Hamilton Mourão foi questionado sobre o episódio envolvendo Ramos e Salles.
“Isso é igual parto. À medida em que a gente vai se afastando do dia que nasceu, você vai ficando mais forte e as coisas vão se resolvendo. Isso é mais ou menos por aí”, respondeu.
Questionado se houve interferência direta do presidente Bolsonaro no caso, Mourão disse: “Acredito que sim”. E acrescentou: “Os ministros são o Estado Maior do presidente. Se está havendo alguma, vamos dizer assim, rusga entre membros do Estado Maior, o comandante tem que intervir e dizer ‘minha gente, vamos baixar a bolinha aí, vamos se acalmar e vamos respeitar-se’.”