Para defender sua proposta de reforma tributária, que inclui o imposto sobre transações financeiras, muito semelhante à antiga e rejeitada CPMF, Paulo Guedes recorre a um filme famoso de 1966. “Três homens em conflito: o bom, o mal e o feio”. Os três estão em busca de um tesouro. Cada um sabe parte da localização do tesouro escondido. Daí, os três têm de conviver em busca da fortuna – assim se dá o enredo. O filme é dirigido por Alberto Grimaldi e música de Enio Morricone.
Para Paulo Guedes, o mal, que ele chama de “cruel”, é não poder desonerar a folha de pagamentos das empresas, se o “feioso” não estiver por perto. O “feioso” é a cobrança de alíquota de 0,2% de todas as transações financeiras, o que incluiria os gastos eletrônicos, que são crescentes.
“O duelo de hoje é o do feioso com o cruel. O feioso é aquele cara legal, que está jogando flores para todo mundo. Ele ajuda o cruel a não prosperar. Paga o Renda Brasil e pode permitir até o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda. Mas ele é bem feioso”, diz o ministro, em defesa da cobrança sobre transações financeiras. E acrescenta:
“O ‘bom’, esse não está nem aí… O bom é o IVA, a unificação de impostos, que é ponto acordado com o Congresso.”
Guedes está ciente da resistência do Congresso ao “feioso”, mas tem esperança de conseguir explicar e convencer a sociedade e as empresas. Ele sabe que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, está irredutível. O “Centrão”, ainda que desfalcado pela saída de MDB e DEM do chamado “Blocão”, pode ser o início da ajuda pela aprovação da proposta.
O presidente Jair Bolsonaro não quer se envolver nessa discussão porque na campanha eleitoral criticou qualquer coisa que se parecesse com a volta da CPMF. Mas, ao mesmo tempo, defendeu a elevação da faixa de isenção na tabela do Imposto de Renda. Isso só seria possível se ele der os braços para o “feioso”.